Estando em frente contato com o meio acadêmico musical, sobretudo em uma capital em que a cultura floresce de modo que nunca havia presenciado anteriormente da minha vida. Encontro ambientes que ora ou outra me fazem refletir positivamente, e uma delas com certeza está sendo meu primeiro contato com música contemporânea, o que de um garoto que estudou e ouviu apenas música tonal, nascido em uma cidade razoavelmente pacata, nunca iria ocorrer se não estando em tal meio. O ponto é que desejo chegar nessa reflexão, relativamente informal, é o que produção cultural artística enfrenta, sob meu ponto de vista, da elitização intelectual da música chamada como “contemporânea” ou "experimental", além de outras incógnitas. Em primeiro lugar quero deixar claro que não tenho nada contra os artistas em si, creio que toda música deve ter um espaço, e é justamente sob essa premissa que trataremos aqui.
Desde concertos que ouvi e até atividades compositivas que desenvolvi e presenciei em faculdade, logo de cara notei algo diferente na forma como é qualificado esse estilo em comparação com demais manifestações. A primeira dela está em claramente como ela é “vendida”, chamada de “contemporânea” ou simplesmente “música nova”, mais ou menos como que a negando como forma de música idiomática, isto é, dentro de linguagens assim como é o rock ou jazz… Isto em muitos momentos me parece justificado como maneira de gerar liberdade ao compositor, contudo isso por si pode trazer grandes problemas.
Digamos, por exemplo, que eu lhe diga para compor algo com total liberdade, e que para tal objetivo, você tenha que negar qualquer aspecto que compreende a linguagem e identidade sonora predominantemente presente, pois, afinal, a presença desta é o que compreende a música idiomática, na qual, segundo muitos músicos contemporâneos, lhe daria uma limitação. O questionamento anterior em relação a “liberdade”, em tal sentido, fica bem ambíguo, certo? E provavelmente você ficará bem perdido na hora de compor, aonde quer que você tente mirar, já que no final das contas, tratá-la dessa maneira o deixará mais preso criativamente do que propriamente se torna se estipulamos padrões como são nos gêneros com estruturas e formas convencionadas.
Isso acontece, pois como seres conscientes, nós humanos nunca estamos em liberdade. Todo nosso arbítrio é condicionado aos fatores ambientais que vivenciamos e aprendemos, desde a maneira como fomos criados na infância até o final de nossas vidas, modulando comportamentos em resposta ao momento presente de nossas vidas. Isso interfere de modo que todas as nossas decisões artísticas só são possíveis, pois fomos condicionados, é por isso também que apresentamos personalidades, ou respostas, diferentes, sendo muitas vezes o livre arbítrio um modo um tanto arrogante de dizer que o homem é a causa de si mesmo. Enxerga agora como pode ser um tanto reducionista lhe dizer para você negar a própria linguagem sob um viés criativo?
Em certo momento, em uma conversa com um professor meu que está bem presente nesse cenário, questionei o seguinte: “Por que você compõe?”, a resposta foi “Pois quero tentar alcançar aquela surpresa inocente que temos quando criança” (resumidamente). E passei boa parte da noite pensando de que maneira ele compreende esta surpresa, que me pareceu um tanto difícil, e de músicas que tive o prazer de ouvir, reconheci que essa surpresa está muito mais presente do campo do prazer, de forma que compor sem formas predefinidas gera uma sensação de unicidade, muito mais para o próprio músico do que a população geral que assiste a sua interpretação, e essa falta de empatia do público com a obra, que não a compreende, a elitiza de maneira quase não vista em demais expressões, entre grupos muitos específicos, muitas vezes do meio acadêmico.
Até em que maneira isso não acaba por refletir ao produto? Ademais, notando a falta de resposta que compositores apresentam perante a isso, me leva a crer que isso não é visualizado como uma problemática. Quem sabe, se estando presente no campo do prazer intelectual, essa elitização agrade os próprios músicos e ainda justifique a maneira de que é apresentada ao público, pois os dão maior sensação de exclusividade como apresentei. Basta a gente imaginar um mundo fictício, em que ela é admirada como é com a música pop, por exemplo, quem sabe nesse mundo este texto estaria tratando do nicho da música tonal e sua relação simétrica incompreendida (risos).
O questionamento que mantenho é: Até em que ponto a arte tem como objetivo sua expressão honesta e não sua rotulação? Enfim, muitos questionamentos a se fazer, irei parar por aqui.
Artikulation (1958)
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